quinta-feira, junho 30, 2005

Índice de Distância Hierárquica - IDH (parteVI)

A distância hierárquica e as ideias

Pais, professores, quadros e líderes políticos são, todos eles, filhos de uma cultura: de certa forma, eles seguem os seus seguidores.

Confúcio afirmava que a estabilidade da sociedade está fundada nas relações de desigualdade entre os seus membros (governante - súbdito, pai - filho, irmão mais velho - irmão mais novo, esposo - esposa, amigo mais velho - amigo mais novo).

As ideias de Confúcio constituem, ainda hoje, uma referência em matéria de comportamento para os chineses.

Mao Tsé-Tung procurou acabar com o confucionismo, mas a sua própria doutrina continha elementos do confucionismo.
As populações dos países confucionistas aceitam e apreciam a desigualdade, mas pensam que o uso do poder deve ser moderado pelo sentido das responsabilidades.

Na Grécia, Platão reconheceu a necessidade básica da igualdade entre as pessoas, mas, ao mesmo tempo, defendia uma sociedade na qual uma elite, os guardiães, exerciam o poder.

Para resolver o conflito entre as duas tendenciais, jogava com duas acepções da palavra "igualdade", uma quantitativa e outra qualitativa. Um pouco como “todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que outros”

A Grécia situa-se, hoje, a meio da escala do Índice de Distância Hierárquica.

Karl Marx nunca se perguntou se o que defenderia iria ou não criar uma nova classe. De facto, parecia assumir quer o exercício do poder poderia transferir-se das pessoas para um sistema. Pode ver-se aqui o efeito da sua cultura de pequena distância hierárquica como o é a Alemanha.

Constituiu uma tragédia que as suas ideias tenham sido exportadas para países de grande distância hierárquica, nas quais o poder não se deve submeter às leis.

A "exportação" das ideias e comportamentos dos países de baixa distância hierárquica para países de elevada distância hierárquica não fica pelas ideias politicas. Existe também na educação, organizações e gestão de empresas, etc. Contudo a experiência mostra que essas “exportações” não têm funcionado nestes países.

De igual modo se passou quando os EUA tentaram copiar o Japão dos anos 60.

Por exemplo, mesmo a “gestão participativa” não é entendida do mesmo modo entre os gestores dos EUA e os da Suécia, aonde o IDH é muitíssimo mais baixo.

Por exemplo nos EUA, os subordinados são convidados a participar pelas chefias enquanto que na Suécia, os subordinados tomam a iniciativa da participação. Nos EUA, isso é considerado uma limitação ao poder da chefia.

A internacionalização das empresas (incluindo deslocalizações) estão a levar os gestores a confrontar-se, cada vez mais, com os efeitos dessas diferenças culturais (em especial quando os gestores são de culturas diferentes dos subordinados).

segunda-feira, junho 27, 2005

Índice de Distância Hierárquica - IDH (parteV)


A distância hierárquica e o estado

Nos países de elevado IDH, o "poder" é um elemento base da sociedade; o "poder" prevalece sobre a "escolha entre o bem e o mal".

A legitimidade do "poder" nunca é posta em causa. De facto, o "poder" prevalece sobre o direito.

Existe o consenso tácito sobre a existência de uma ordem de desigualdade onde cada um ocupa o seu lugar.

Uma ordem desta natureza satisfaz a necessidade de “dependência” do cidadão e dá a todos, possuindo ou não poder, uma sensação de segurança.

Nestas sociedades verifica-se a coexistência de poder, riqueza e estatuto.

Os detentores de poder detêm privilégios.

Se algo corre mal a culpa recai nos níveis hierárquicos inferiores.

Os rendimentos são repartidos de forma desigual.

O próprio sistema fiscal favorece os mais ricos. Os rendimentos depois dos impostos podem ser ainda mais desiguais que os rendimentos antes dos impostos; para o que contribui significativamente os privilégios de quem tem "poder" (que coexiste, frequentemente, com a riqueza e o estatuto).

Nos países de baixo IDH, existe o sentimento de que o uso do "poder" tem de ser legitimado e submetido ao "julgamento entre o bem e o mal".

A desigualdade não é desejável, ainda que seja inevitável; a desigualdade deve reduzir-se ao mínimo, através de meios políticos, pelo que os mecanismos legais de "poder" e "contra poder" estão disponíveis e são eficazes.

A lei deve garantir, a todos, iguais direitos.

O poder, a riqueza e o estatuto não coexistem necessariamente; pelo contrário, os símbolos de estatuto são suspeitos – daí o exemplo do ministro que vai para o emprego de autocarro.

Os escândalos, normalmente, põem fim a uma carreira politica.

As revoluções não gozam de popularidade; prefere-se mudar o sistema através de evoluções sucessivas, sem necessidade de depor quem está no "poder".

Nos países de elevado IDH os sindicatos tendem a estar controlados pelo estado; quando isso não acontece, são criados inspirando-se numa ideologia e são politizados.

Nos países de baixo IDH os sindicatos são mais independentes e estão menos marcados ideológica e politicamente, estando sobretudo preocupados com a defesa dos interesses concretos dos seus membros.

Apesar dos países de elevado índice de distância hierárquica (IHD) tenderem a “copiar” muitas das instituições de países de baixo IDH, isso não se tem revelado eficaz.

De facto, por exemplo, instaurar apenas eleições não modifica os costumes políticos de um país, quando estes costumes estão profundamente enraizados na programação mental da maioria da população.

sexta-feira, junho 24, 2005

Índice de Distância Hierárquica - IDH (parteIV)

A distância hierárquica e o local de trabalho

Nos contextos de elevada distância hierárquica, superiores e subordinados, consideram-se entre si, desiguais, por natureza; o sistema hierárquico parece estar baseado nessa desigualdade existencial.


Existe um elevado número de chefias, assim como de escalões hierárquicos.

Os sistemas de redistribuição reflectem grandes disparidades entre a base e a cúpula.

O trabalho manual é desvalorizado, nomeadamente em relação ao trabalho administrativo.

Os superiores hierárquicos gozam de privilégios e os contactos entre superiores e subordinados são iniciados, regra geral, pelos primeiros.

A chefia ideal, aos olhos dos subordinados, é um autocrata benevolente ou “bom pai”.

Os sinais visíveis de estatuto contribuem para assegurar a autoridade das chefias; é muito possível que um subordinado se sinta orgulhoso pelo seu chefe conduzir uma carro maior que o chefe do seu vizinho.

Ser vítima de abuso de poder por parte da chefia constitui apenas má sorte; nada faz supor que existam meios para por fim a uma tal situação. Se as coisas se tornam demasiado graves, as pessoas podem unir forças e encetar uma revolução.

Os métodos de gestão por objectivos, inventados nos EUA, não funcionará neste contexto, uma vez que pressupõe alguma forma de negociação entre as chefias e subordinados, e na qual, nenhuma das partes se sentirá confortável (num contexto de levada distância hierárquica).

Num contexto de baixa distância hierárquica, subordinados e chefes consideram-se iguais por natureza; o sistema hierárquico constitui simplesmente uma desigualdade de papéis estabelecidos por conveniência; os papéis podem ser modificados, de modo que alguém que é hoje subordinado pode vir a ser amanhã meu chefe.

As organizações estão bastante descentralizadas, com uma pirâmide hierárquica achatada e contingentes reduzidos de pessoal de supervisão.

A diferença salarial entre os cargos de direcção e a base é pequena.

O trabalho manual, altamente qualificado, é mais premiado que o trabalho administrativo pouco especializado.

Em geral, os privilégios para os níveis superiores consideram-se pouco desejáveis e, por exemplo, todos devem utilizar o mesmo parque de estacionamento, as mesmas casas de banho ou o mesmo refeitório.

Os subordinados esperam ser consultados para todas as decisões que afectam o seu trabalho, mas aceitam que seja o chefe a decidir, em último recurso.

Os sinais exteriores de poder são considerados suspeitos e, por exemplo, os subordinados provavelmente farão comentários negativos com os colegas se o chefe gastar recursos da empresa para comprar um automóvel luxuoso.

terça-feira, junho 21, 2005

Índice de Distância Hierárquica IDH (parteIII)

A distância hierárquica e a Escola

A escola contribui para a programação mental das crianças de modo semelhante à família; os professores e os companheiros de classe transmitem-lhes os valores de uma cultura à qual pertencem.

Está por resolver a questão até que ponto o sistema educativo contribui para mudar uma sociedade; poderá a escola criar valores que não existiam anteriormente ou, tão só, reforçar o que já existe numa determinada sociedade?

De qualquer modo, uma comparação entre os sistemas escolares de várias sociedades revela diferenças iguais às já observadas nas famílias.

Numa relação de grande distância hierárquica, a desigualdade pai - criança, é perpetuada pela desigualdade professor - aluno que responde à necessidade de dependência já enraizada na mente do aluno (pelo tipo de relação semelhante existente no seio da familia).

O processo educativo centra-se no professor, sendo este que traça o caminho intelectual a seguir.

O que se transmite não é uma verdade impessoal, mas sim a sabedoria pessoal do professor, o qual é considerado um guru.

Num sistema deste tipo, a qualidade da aprendizagem que se recebe depende quase exclusivamente da excelência dos professores.

[Contudo, neste contexto, pode acontecer exemplos de contra-dependência; traduzido num deslocamento de “relação” para a situação oposta: o desrespeito dos alunos pelos professores.]

Num contexto de baixa distância hierárquica, os professores tratam os alunos como iguais e esperam ser tratados como iguais por estes.

O processo educativo centra-se no aluno, premiando-se a iniciativa individual: ele deve encontrar, por moto próprio, o seu rumo intelectual.

O processo educativo é bastante impessoal: o que se transmite são verdades ou dados que existem independentemente de cada professor em particular. [O processo de ensino favorece o conhecimento cientifico.]

A qualidade da aprendizagem é em grande medida determinada pela excelência dos alunos.

domingo, junho 19, 2005

Índice de Distância Hierárquica IDH (parteII)

A distância hierárquica e a família

Num ambiente de grande distância hierárquica espera-se que as crianças sejam obedientes relativamente aos pais. Por vezes existe mesmo uma hierarquia entre as crianças, onde os mais pequenos devem obedecer aos mais velhos.

O comportamento de independência não é encorajado e o respeito face aos pais e outros adultos é considerado como uma virtude fundamental.

Neste contexto, as crianças beneficiam sobretudo na tenra idade, de uma considerável ternura e atenção por parte dos seus pais e crianças mais velhas.

Mas, estas crianças são vigiadas, não sendo encorajadas a passarem à experimentação por iniciativa própria.

Num contexto de baixa distância hierárquica, as crianças são mais ou menos consideradas como iguais a partir do momento em que são capazes de agir.

A educação dos pais tem como objectivo deixar a criança adquirir controlo sobre os seus próprios afazeres o mais cedo possível. Encoraja-se a experimentação activa, permite-se à criança contradizer os pais, aprendendo o dizer “não” muito cedo.

As relações que estabelecem não estão dependentes do estatuto do outro: o respeito formalizado e a deferência não são correntes.

As relações familiares que se estabelecem neste tipo de sociedade, parecem, aos olhos de estrangeiros, como sendo distantes e muitas vezes frias, destituídas de intensidade.

Ao cresceram, as crianças substituem a relação pai - criança por uma relação igualitária, estando fora de questão o adulto pedir autorização aos seus pais, ou mesmo conselho, relativamente a duma decisão importante.

Os cenários dos dois parágrafos foram deliberadamente polarizados. A realidade situa-se algures entre os dois extremos.

O impacto da família na programação mental é muito forte, tornando-se difícil modificar os programas adquiridos em criança.

Os psicanalistas conhecem bem a importância dos antecedentes familiares, mas nem sempre estão conscientes do seu contexto cultural.

quinta-feira, junho 16, 2005

Índice de Distância Hierárquica IDH (parteI)


A distância hierárquica pode ser definida como a medida do grau de aceitação de uma repartição desigual do poder por parte daqueles que têm menos poder nas instituições e organizações de uma país.

O Índice de Distância Hierárquica – IDH – procura medir essa distância hierárquica.

No fundo, “informa” sobre as relações de dependência num determinado país.

Nos países onde a distância hierárquica é baixa, a dependência dos subordinados relativamente às suas chefias é limitada: trata-se mais de uma interdependência entre chefe e subordinado; preferindo-se, por exemplo, um estilo de direcção consultiva.

A distância hierárquica entre chefe e subordinado é relativamente pequena e os subordinados abordam e contradizem as suas chefias com facilidade.

Nos países, onde o índice é elevado, existe uma dependência considerável dos subordinados face às suas chefias.

Os subordinados reagem a esta situação quer preferindo essa dependência (na forma de um chefe autárquico ou paternalista) ou rejeitando-a inteiramente - adoptando uma atitude que, em psicologia, é conhecida como contra – dependência.

Assim, os países de elevada distância hierárquica evidenciam uma relação polarizada entre dependência e contra - dependência. A distância emocional entre chefias e subordinados é elevada e estes últimos raramente abordam ou contradizem as suas chefias abertamente.

Índices de Distância Hierárquica

(integra 50 países e três regiões)

  • Guatemala 95
  • Índia 77
  • Oeste Africano 77
  • Jugoslávia 76
  • França 68
  • Turquia 66
  • Bélgica 65
  • Portugal 63
  • Itália 50
  • EUA 40
  • Holanda 38
  • Austrália 36
  • Alemanha 35
  • Finlândia 33
  • Suécia 31
  • Irlanda 28
  • Dinamarca 18
  • Israel 13
  • Áustria 11

Os países latinos europeus (como a França, Espanha, Portugal, etc.) e os da América Latina, Ásia e África, têm valores elevados para o respectivo Índice de Distância Hierárquica.

Os EUA, Grã-Bretanha e seus antigos domínios, assim como a parte não latina da Europa (exceptuando a Europa do Leste que não foi testada com excepção da ex- Jugoslávia), têm um Índice de Distância Hierárquica baixo.

Há, em cada país, uma relação estreita entre a realidade encontrada e o que o respectivo (habitante) percebe e aquela que deseja.

Por exemplo nos países, onde os empregados não se consideram muito receosos e as chefias são pouco autocráticas ou pouco paternalistas, os empregados manifestam preferência por um estilo consultivo de decisões.

Nos países situados no lado oposto da escala (IDH), onde os empregados sentem receio de expressar desacordo face às chefias e estas são percebidas como autocráticas ou paternalistas, a maior parte dos empregados exprimem uma preferência por chefias que decidem de forma autocrática ou paternalista; mas, em alguns casos, passam para o extremo oposto, preferindo uma chefia que dirija segundo o voto da maioria, ou seja, que não decida nada por si próprio (fenómeno de contra – dependência).

De facto, a autoridade só sobrevive quando correspondida pela obediência. Esse tipo de “liderança” só pode existir como complemento a uma situação de “subordinação”.

O IDH varia, dentro de cada país, de acordo com a classe social, nível de estudos e ocupação profissional.

O IDH é tanto menor quanto mais alto é a classe social e o nível de estudos.

As ocupações profissionais mais baixas são as que têm maior IDH.

Por outro lado a estrutura familiar traduz algo de semelhante.

Um estudo realizado nos EUA e em Itália revelou que os pais da classe trabalhadora exigem mais obediência aos seus filhos que os pais das classes média e que este facto era mais acentuado nos EUA que em Itália.

[Retirado de: “Culturas e Organização” de Geert Hofstede

– Professor de Antropologia Organizacional e Gestão Internacional na Universidade de Limburg na Holanda; fundador e Director do Instituto de Investigação em Cooperação Inter cultural; mestrado em Engenharia mecânica e doutorado em Psicologia Social.]

segunda-feira, junho 13, 2005

Gostaria de poder vir a ter Esperança… (IV)

Quando o Presidente da República vem dizer que as empresas (sociedade civil) têm de ajudar o Estado a resolver a crise; só pode estar a brincar!

O Estado Português sempre foi sobranceiro e arrogante face à sociedade civil e, naturalmente, aos seus cidadãos.

Até a “mentira politica”, agora tão comum, não é mais que uma delicadeza das elites políticas para com os cidadãos; “antes”, nem sentiam necessidade de “mentir” aos cidadãos, limitavam-se a fazer o que queriam.

O Estado português nunca pediu ajuda aos cidadãos porque não tem necessidade de o fazer – tira-lhes, simplesmente, o que precisa (muitas leis reflectem claramente o pouco respeito do Estado Português pela propriedade privada; veja-se as leis do arrendamento e da reabilitação urbana, em que o património privado é como que “usufruído” pelo Estado como se tratasse de património público!).

O que eu gostaria de ver reflectir ao Presidente da Republica Portuguesa era o porquê do nosso sistema político ter conduzido o País a tal estado de coisas quando há muito se sabia para onde íamos; o porquê de não se poder ter tido capacidade de parar a depredação de grande parte da riqueza nacional e das doações europeias (depredação, muitas vezes acompanhadas de “palmas” e com inaugurações “sob medida”) e o porquê de não se poder responsabilizar os seus autores, que mandato após mandato, mais à esquerda ou mais à direita, continuam impunemente a fazer o que lhes apetece contra o povo português.

Gostaria de ver o Presidente da República reflectir porque isso não se passa (ou passa-se muito menos) nos países anglo-saxónicos e do norte da Europa e porque ocorre, persistentemente, no nosso País.

Segundo a minha opinião, se não reflectirmos nas “causas primeiras” da Crise e não as resolvermos, só circunstancialmente sairemos dela.

Enquanto não formos capazes de pensar sobre a nossa concepção de sociedade; enquanto não actuarmos ao nível do quadro societário de caracteriza hoje a nossa sociedade, nomeadamente das relações Estado – Cidadania, não saírem desta crise.

Quanto muito, ela será mascarada e empurrada para a frente; aonde estoirará de novo, com muito mais força e com consequências ainda mais graves e irreparáveis para todos (inclusive para a aristocracia de serviços).

A globalização das sociedades humanas impõe novos desafios; desafios com consequências muitíssimo mais profundas e decisivas para todos nós, elites e cidadãos.

Hoje, os nichos de exploração não são possíveis de preservar para “os mesmos” durante muito tempo – este é, no fundo o grande drama da globalização; as aristocracias de vários países “contorcessem-se” contra os efeitos da “liberdade” e do conceito de “cidadania anglo-saxónico”, que se alastram lenta, mas progressivamente por todo o lado.

A “exploração” está a dar lugar à necessidade imperiosa de cooperação e interdependência entre elites e cidadãos porque, de facto, a cooperação e a interdependência são infinitamente mais eficazes que aquela (a exploração), mesmo para as elites.

(Não confundir cooperação com corporação; a cooperação exige amplo exercício de cidadania por parte de cada um dos seus elementos e a corporação exige subalternização e obediência às elites.)

Efectivamente a solução para a Crise em Portugal é, segundo a minha opinião, muitíssimo simples: basta não combater o exercício da cidadania (não confundir com promover, pois aparecerá logo alguém a distribuir subsídios e a re - afirmar o poder paternalista do Estado, tão caro às elites!); isso exige diminuição drástica de impostos e, simplesmente, “deixar os cidadãos trabalhar”.

A crise não se resolve sob o grito do Estado “deixem-me trabalhar!”. A crise resolve sob o grito dos cidadãos: “deixei-nos trabalhar!”.

O 25 de Abril e a entrada de Portugal na União não puseram termo à rebanho-ização (com mais rigor, vaca- ização) dos cidadãos portugueses pelo seu Estado (aristocracia de serviços).

É nisso que a “democracia anglo-saxónica” é um perigo para grande parte dos poderes instituídos por este planeta fora: ter considerado que as todas as pessoas são cidadãos com capacidade de se auto - governarem; que as Nações não são, de direito, os respectivos Estados mas, sim, os respectivos Povos.

Mas, mais ainda, demonstraram que isso não só é possível como é eficaz; aliás, socialmente, muitíssimo mais eficaz que o governo centralizado por estados autocráticos, por mais paternalistas que estes sejam.

Gostaria de poder vir a ter Esperança… Gostaria.

quinta-feira, junho 09, 2005

Gostaria de poder vir a ter Esperança… (III)

O Estado é em Portugal, praticamente a única entidade capaz de tomar iniciativas significativas socialmente úteis (para além do investimento estrangeiro, seja de origem estrangeira ou nacional – exportado, previamente, e tornado a importar como investimento estrangeiro).

Na generalidade, face ao seu carácter e à dimensão a que ascenderam, qualquer decisão que preserve ou aumente o investimento público e o consumo público, significa extrair dos cidadãos, ainda mais, da riqueza nacional que criam anualmente e significa o esmagamento, ainda maior, da capacidade destes poderem tomar iniciativas socialmente significativas (de origem interna, nacional); mesmo que sejam no sentido de controlarem melhor o seu Estado!

É esse o efeito de quaisquer aumentos de impostos para lá do “montante” que começa a constituir esmagamento, pelo Estado, da capacidade de exercício da cidadania por parte dos cidadãos.

Não é por acaso que, nas democracias de origem, as alterações de impostos obedecem a exigências muito duras que tornam muitíssimo difíceis, aos respectivos governos, os aumentos de impostos; e, não é por acaso, que o controlo e responsabilização sobre a utilização dos dinheiros públicos são exigentes, rigorosos e eficazes.

O povo Inglês (de facto, a nobreza; mas o povo beneficiou também dela) fez essa conquista no século XV - XVI; o povo português, no início do século XXI, ainda não conseguiu controlar o poder fiscal do seu Estado e, como tal, o carácter predatório que este pode assumir!

Segundo a minha opinião, as medidas do actual Governo nada resolverão; nomeadamente, por dois motivos estruturais à concepção de sociedade que as medidas, agora anunciadas, subentendem.

Um deles, porque, no seu conjunto, o Estado aplica pior o dinheiro do que a sociedade civil que o cria (ou seja, aqueles que criam a riqueza nacional).

Os exemplos estão por todos os lados, desde estádios de futebol a toda uma panóplia de investimentos de baixa ou de pouca rentabilidade social como a ponte Vasco de Gama que não resolveu, de facto, o problema da ligação norte-sul dentro da grande Lisboa e na qual o País continua a perder milhões de horas diárias de trabalho.

Aliás, Portugal continua a decidir investimentos públicos como o fazem os países mais atrasados do terceiro mundo; decide na base de listas de interesse políticos e corporativos.

Os investimentos públicos não são decididos na base de estudos de rentabilidade social, globais à política de investimentos e à especificidade de cada projecto.

Até as próprias leis são aprovadas sem serem sustentadas em estudos sobre a respectiva aplicabilidade e a respectiva eficiência social; se há Países com mais leis inaplicáveis, ou aplicadas conforme os apetites de algum pequeno “ditador administrativo”, um bom exemplo é Portugal (por isso a corrupção é tão grande).

Mesmo, quando o Estado Português redistribui a riqueza nacional (que recolheu através dos impostos e de múltiplas e variadíssimas taxas) através de investimento público, subsídios ou do respectivo consumo, está a privilegiar, a alguns, o acesso ao usufruto dessa riqueza nacional através de mecanismos políticos e administrativos e não através de critérios de competência e eficácia.

Esses privilegiados da redistribuição (na qual se integra a aristocracia de serviços), na generalidade, são ineficazes investidores da riqueza (dinheiro) a que têm direito de usufruto; frequentemente, esses privilegiados, são grandes consumidores e esbanjadores.

Mesmo quando, de facto, são investidores, as suas decisões não são ditadas pela rentabilidade dos respectivos projectos mas sim pelo nível de subsídios públicos (directos ou indirectos) que poderão continuar a auferir; ou, muitas vezes até, sob a ideia, de que se algo correr mal, sempre podem ir ao mesmo local (o Estado) recolher mais uns dinheiros – o dos cidadãos que pagam impostos!

Em situação de crise dar mais dinheiro a quem o utiliza, socialmente, da pior maneira, não resolve crise nenhuma; só irá agravar a crise!

Em segundo lugar, tais medidas (as que o “novo” Governo vai tomar) preservarão ainda mais as condições que conduziram à crise, porque ao retirar “mais riqueza” (aumento de impostos) à sociedade civil que a cria, o Estado está a diminuir ainda mais a capacidade de iniciativa socialmente útil e significativa dos cidadãos e a esmagar ainda mais o exercício da cidadania em Portugal.

A capacidade da sociedade civil enfrentar o seu Estado - predador torna-se ainda mais débil, apesar do País possuir um sistema politico que já lhe proporciona muitas poucas possibilidades para tal.

A única capacidade que resta aos cidadãos portugueses é a fuga (“ o medo de existir”, segundo José Gil): não consumir, não investir, expatriar capitais, não pagar impostos ou mesmo imigrar.

domingo, junho 05, 2005

Gostaria de poder vir a ter Esperança… (II)

Por isso, no novo mundo em que vivemos, a Crise que se vive em Portugal não passa por continuar a gerir dentro da velha concepção da relação Estado – Cidadãos, por muito “modernizante” em que se mascare essa relação, nomeadamente sob a justificação da “solidariedade social” - como se está só pudesse ser apanágio dos Estados.

Historicamente, Portugal sempre foi um País com um Estado forte e centralizador (ultra - regulamentado) associado à fraca capacidade de exercício de cidadania por parte dos cidadãos.
O Estado Português (e as suas elites) sempre desconfiou dos “seus” cidadãos, em especial das suas iniciativas; sempre se achou a si mesmo (Estado) como “pessoa de bem” e os cidadãos como pessoas potencialmente “más” e incompetentes; incapazes de auto – governarem devidamente a sua vida e, muito menos, que, das suas iniciativas, pudesse emergir algo de “bom” para o País.

O pouco de cidadania que ainda terá “restado” à sociedade civil portuguesa sempre foi exercido sob forte controlo do Estado e sob sua tutela; a subsídio-dependência (que protege a aristocracia de serviços) não é de hoje; antes, terá tido outros nomes (corporativismo, entre outros!) e, eventualmente, não terá tido tanta preponderância e importância porque Portugal está mais aberto ao exterior e há que redistribuir, para além da riqueza anualmente produzida pelo País, os volumosos subsídios que vêm da União.

Se antes do 25 de Abril, Portugal tinha um Estado forte e centralizador (e ultra – regulamentado) associado a uma quase não – cidadania dos portugueses; depois do 25 de Abril continuamos com um Estado forte, ainda mais forte que antes (além de centralizador é muitíssimo mais ultra - regulamentado), e continua a haver um esmagamento no exercício da cidadania por parte dos cidadãos, em especial, do que não dependa do Estado.

O montante da riqueza nacional que anualmente é transferida de quem a cria (os cidadãos) para o Estado (cerca de 70% dos rendimentos ao longo da vida média) esmaga a capacidade de tomada de iniciativas por parte dos cidadãos.
A administração pública, fortemente regulamentadora e com o correspondente poder discricionário, actua, sistematicamente, sobre as iniciativas dos cidadãos com vista ao seu bloqueio ou à cata do dinheiro “por baixo da mesa”.
Os actos dos políticos, inclusive os autárquicos, são incontroláveis e irresponsabilizáveis, na prática, por parte da sociedade civil.

Se antes do 25 de Abril, o Estado Português era incontrolável e irresponsabilizável (ou seja, as suas elites); depois do 25 de Abril, continua quase tão incontrolável e irresponsabilizável.

Quando o Primeiro-ministro, Sócrates, anuncia o aumento de impostos e a preservação do investimento público para fazer face à Crise, não está a fazer mais que dar continuidade à concepção de sociedade (estado e sociedade civil) que os portugueses têm; está a decidir-se por soluções à Crise dentro do quadro societário que caracterizam a nossa sociedade.

A Primeiro-ministro não veio anunciar a diminuição dos benefícios da aristocracia de serviços (políticos, funcionários e instituições públicas e privadas que vivem à custa do Estado – dos impostos dos cidadãos); vem anunciar que todos temos de pagar as despesas dessa aristocracia de serviços e preservar o lugar que têm na sociedade portuguesa e o “bem” que nos têm feito!

De facto, a procura de soluções “diferentes”, mesmo para enfrentarem situações de Crise, é feita sempre dentro “do mesmo de sempre”, ou seja “o Estado faz – tudo”.

A diferença entre a esquerda e a direita, portuguesas, está apenas na acentuação mais paternalista ou mais autoritária que atribuem à forma de intervenção do Estado sobre a sociedade; num caso ou noutro o papel do cidadão é a ser passivo.
Aliás essa é a praxis na sociedade portuguesa; os cidadãos não controlam e ainda menos podem exigir responsabilidades ao Estado e à aristocracia de serviços.

Nunca poderá passar pela cabeça de um político português, de direita ou de esquerda, que a causa da Crise é precisamente a preservação do excesso de poder intervencionista do Estado associado ao esmagamento da capacidade de exercício da cidadania por parte dos cidadãos portugueses.