Já vimos que as decisões políticas em Portugal raramente são sustentadas tecnicamente e já vimos como a não - independência ou o escasso poder dos órgãos técnicos permite que qualquer “eleito” passe, de um dia para o outro, a ser não especialista “em tudo” como passa a ter poder (não controlável e não -responsabilizável) para fazer o que quer (autocrata).
Pelos mesmos motivos, grande parte das decisões políticas é sustentada por raciocínios imediatistas e primários, do tipo de raciocínio que conclui que: “o Sol anda em volta da Terra”.
Aliás, seria de admirar que um qualquer “eleito”, eleito sem obedecer a quaisquer critérios de competência científica, pudesse “acertar” nas decisões que tomasse em áreas que não sejam da sua, eventual, especialidade – se isso ocorresse não seriam precisas universidades e organizações técnico-científicas especializadas; a ciência, o conhecimento científico e o seu método, não seriam necessários.
Por exemplo:
Lisboa está congestionada de trânsito; para os nossos políticos, a solução é diminuir o número de carros, impedir a entrada de viaturas em Lisboa.
Ou seja, a solução é não fazer mais vias de acesso a Lisboa, criar impostos de acesso à cidade (aliás, a via Sul – Norte já tem impostos: o que se paga nas duas pontes!), etc.
Paris não está saturada com 12 milhões de habitantes e Londres, com mais de 12 milhões de habitantes, só agora, colocou impostos nos acessos à parte baixa da cidade. A grande metrópole Nova Iorque – Filadélfia, com cerca de 50 milhões de habitantes, não está saturada!
Mas, Lisboa está saturada com 3 milhões de habitantes – apetece dizer: “somos mesmo pequeninos!”
Como, habitualmente, os políticos portugueses vêm (ou querem ver!) “o Sol andar à volta da Terra” (deve ser o tipo de raciocino que aprenderam nas nossas “boas” escolas).
Lisboa não pode estar congestionada por excesso de viaturas; isso é exemplo de um conhecimento aparente.
As pessoas têm de se deslocar a Lisboa - elas avaliam as possibilidades de deslocamento existentes, suas vantagens e desvantagens; não são estúpidas quando o fazem na sua viatura. Também não são estúpidas quando, no dia sem carros, enchem os hotéis de Lisboa!
De facto, Lisboa não tem transportes públicos (estou a dizer: “públicos” e não a dizer “transportes do Estado”!); e não os tem por motivos vários!
Porque é que os políticos portugueses andam de transportes públicos em Londres e, porque, em Lisboa, não fazem o mesmo?
Porque, em Londres, esperasse
Em Londres, os transportes públicos estão sujeitos a uma concorrência aberta e feroz entre múltiplas empresas (privadas) que operam em paralelo para os mesmos destinos; aqui, em Portugal, os transportes públicos rodoviários são “concessionados”, em exclusivo, a uma empresa – ou seja, a concorrência é bloqueada pelo próprio Estado, e diga-se: em prejuízo dos cidadãos.
O metro de Lisboa é pequeno e “bonito”; quem terá descoberto que os seus passageiros se “passeiam” como se num “museu” estivessem (deve ter sido alguém “apaixonado” pelo metro de Moscovo e pela sua semelhante ineficácia!)
O metro de Londres é horrível de feio – mas é altamente eficiente; é isso que os cidadãos querem e foi para isso que foi feito e se gasta tanto dinheiro na sua construção. O metro de Londres estende-se por toda a cidade e arredores, enquanto que o de Lisboa serve, praticamente, o centro da cidade e muito mal; nem estações inter modais se conseguiram construir.
O aeroporto só é servido por táxis e, só agora, começam a aparecer, em Lisboa, algumas, muitíssimo poucas, estações inter modais (entre metro, autocarros, comboios e táxis); isso mostra que o fascismo, enquanto ideologia protectora de corporações (públicas e privadas), continua bem presente em Portugal e nas decisões políticas, quer, ditas, de esquerda como de direita.
Desbarata-se dinheiro por todo o lado mas não se conclui a CRIL, não se melhora os acessos a Sintra e não se resolve o acesso às cidades do Sul de Lisboa – milhões de horas de trabalho são perdidas diariamente nos acessos a Lisboa, os custos empresarias (e nacionais) e a ineficiência elevam-se significativamente, mas não há decisões e acções politicas em conformidade -ninguém se parece preocupar; somos pobres, porque fazemos tudo para continuarmos a ser pobres!
O congestionamento de tráfego em Lisboa não se resolve olhando para o tráfego, em si (isso é um raciocínio primário); resolve-se olhando as causas do tráfego (ou seja, a sua finalidade), olhando o que ele serve e as respectivas consequências para os cidadãos, para a cidade e para o País quer em termos económicos como de comodidade e eficiência, olhando para o tipo crescimento urbano que se lhe adequa, etc.
Outro exemplo:
Portugal tem os índices mais elevados da Europa em acidentes rodoviários.
Raciocínio primário dos políticos portugueses: diminua-se a velocidade permitida!!!
Pelo menos, poderiam perguntar-se porque em França o limite de velocidade nas auto-estradas é de
O Público, no dia 22 de Setembro, apresenta um breve estudo sobre as estradas com mais acidentes em Portugal; como eu constatei, grande parte dos acidentes são nas estradas nacionais e numas IP’s (4 e 5) com traçado similar ao das estradas nacionais.
Ou seja, o Público vem mostrar, com seu trabalho, que os acidentes rodoviários não são o resultado da velocidade permitida (raciocínio primário).
Uma velocidade de
Todos nós sabemos que as estradas portuguesas são mal assinaladas, estão em mau estado de conservação, não possuem vias de ultrapassagem suficientes (quem terá sido a “inteligência” que descobriu que as zonas de ultrapassagem só devem existir nas subidas?), etc.
As IP’s 4 e 5, há anos que são apontadas como as mais mortíferas do País (a IP5 é a mais importante via de acesso do país à Europa); contudo, uma e outra, continuam sem perfil de auto-estrada.
A EN1 não é uma estrada, mas sim uma rua de Lisboa ao Porto; Portugal tem a rua mais comprida do mundo:
É evidente que aqui os acidentes são mais que muitos; contudo ainda não foi equacionado o grave problema dessa via – e também aqui o problema não é velocidade (bem, para os nossos “eleitos” parece que sim!!!).
Ou seja, numa primeira análise a velocidade nas auto-estradas até podia aumentar enquanto que a das estradas nacionais deveria descer em função do seu estado.
Mas, porque não trazer o tráfego das estradas nacionais para as auto-estradas? Porque não trazer os camiões para as auto-estradas?
Será que a necessária diminuição das portagens não seria compensada pelo aumento de tráfego nas auto-estradas e pela diminuição do número de acidentes?
Bem …, entreguem isso aos técnicos; foi para isso que eles estudaram e deixem de pensar (vocês, os políticos) que por terem sido eleitos passaram a saber tudo (especialistas “em tudo”) e a poder fazer tudo (autocratas).
Portugal tem uma característica cultural que o difere significativamente dos restantes países europeus: temos o maior consumo de álcool da Europa e um dos maiores do mundo. Isso afecta a qualidade dos nossos motoristas, inclusive porque o consumo de álcool é habitual ao longo do dia e às refeições; mas nisso, mais uma vez o carácter fascista da política pública portuguesa (protecção às corporações) permitiu que as corporações vinícolas sobrepusessem os seus interesses aos interesses dos cidadãos.
Outro exemplo:
Portugal tinha a maia alta taxa de analfabetos e a mais baixa taxa de licenciados, da Europa, e hoje tem a maior taxa de desistências.
Raciocínio primários dos políticos portugueses: abram-se escolas e universidade por todo o lado, “passe-se” todos os alunos e desse-lhes acesso à universidade em função do número de vagas “nas suas salas”.
Resultado desse “tipo de conhecimento” (o primário): temos a maior taxa de iletrados de Europa quer nos sem - licenciatura como nos licenciados; imagine-se que um prestigiado Professor (numa ciência exacta) vem afirmar, em público, que uma passagem de nível caiu porque um “borboleta bateu as asas na China” – ou seja, ele não entendeu “nada” ou ensinaram-lhe tudo errado!
Outro exemplo:
É preciso “descentralizar” a administração pública.
Raciocínio primário dos políticos portugueses: mude-se as sedes das secretarias de estado ou ministérios para as “províncias”.
Bem … isto é o resultado da iletracia, neste caso dos “eleitos” especialistas “em tudo”!
“Des - centralizar” não é fazer com que os cidadãos, em vez de virem todos a Lisboa, agora passem a ir a Faro; quando muito isso será a deslocalização de “centro”.
“Descentralizar” é repartir a capacidade de decisão administrativa para níveis mais baixos da cadeia hierárquica ou eliminar, mesmo, algumas “necessidades de decisão” actualmente existentes.
Outro exemplo:
Temos dos medicamentos mais caros da Europa.
Raciocínio, agora mais elaborado, dos políticos portugueses: introduza-se os genéricos.
Em qualquer cadeira básica de economia se aprende que o preço é fixado pela lei da oferta e da procura (é uma “lei” como a lei da gravidade; não é uma “teoria” como é a teoria newtoniana).
As empresas, sabedoras disso, associam-se, sempre que possível, para controlar essa oferta e deste modo elevar artificialmente os preços. Nos países fascistas, o próprio Estado promove essas associações e protege-as (licenciamento comercial e industrial, legislação de “acesso” limitado à actividade, etc.).
Os políticos introduziram os genéricos, mas estes operam nas mesmas condições de não concorrência em que operam os medicamentos tradicionais.
Ou seja, continua tudo, praticamente, na mesma: a protecção corporativa das empresas “farmacêuticas tradicionais” transferiu-se para as (a) empresas (empresa) de genéricos.