quarta-feira, julho 27, 2005

O Sistema Politico Francês

[Retirado de “A Sistémica” de Daniel Durand (Dinalivro)]

Pertencendo ao tipo de sistemas democráticos ocidentais, o sistema político-administrativo francês apresenta características particulares que fazem dele um caso especial. Os seus traços mais originais são, ainda no momento actual, uma forte centralização dos poderes, uma regulamentação abundante, dirigismo ainda com vitalidade e a existência de dois sistemas jurídicos distintos, privado e administrativo.

Esses traços diferenciadores conduzem a um certo fecho do sistema sobre ele próprio e a um isolamento no seio da sociedade civil. Michel Crozier e François de Closets descreveram bem os mecanismos do fenómeno burocratização que tendem a isolar esse sistema e, no interior deste, os grandes subsistemas componentes, a educação nacional ou a segurança social por exemplo.

A maior parte dos políticos parecem conscientes dos defeitos do sistema e esforçam-se por obter o remédio, mas de forma geralmente inadequada: é especialmente por mais regulamentação que se tenta corrigir os defeitos da regulamentação anterior, o que pode ser descrito pela fórmula de G. Bateson: “Quanto mais mudam as coisas mais ficam na mesma”.

Entre os numerosos exemplos de falsas mudanças do passado, pode citar-se o exemplo da RCB que se pretendia uma versão francesa de um modelo americano, o PPBS (Planning, Programming, Budgeting System). Empobreceu-se desde logo o conceito fazendo uma simples racionalização das escolhas orçamentais, que depois se esqueceu após algumas aplicações decepcionantes.

Uma tentativa interessante foi a do ministro Joseph Fontanet, ministro dos assuntos sociais nos anos 60, e sistemacista, que tentou introduzir um dispositivo autónomo de controlo dos encargos da segurança social mas não conseguiu convencer uma equipa ministerial demasiado ligada à tradição cartesiana.

Entretanto, certas decisões mais recentes seguem a via realmente sistémica de uma abertura e de uma flexibilização do sistema. As medidas de descentralização tomadas em 1981, particularmente em favor das províncias, começaram a fazer evoluir certos comportamentos e a opinião pública, avançada relativamente ao próprio sistema, aprovou essas medidas.

Em 1990, o primeiro-ministro empreendeu uma outra acção em profundidade: o objectivo era transformar estruturas, estatutos e comportamentos na função pública, introduzindo nomeadamente uma certa dose de auto - organização.

É desejável que estes ensaios, ainda tímidos, sejam rapidamente ampliados, se não se pretender acentuar novamente o divórcio entre os dois sistemas: o sistema sempre em mutação e quase versátil da sociedade civil e o sistema rígido e fechado do complexo político-administrativo.

Se essa ausência de adequação e de coerência entre os dois não se desfizer, o risco será grande, não de uma simples alternância politica no seio do sistema (ou seja, de uma forma de regulação), mas de uma mudança de tipo catastrófico do sistema político para um sistema autoritário, regressivo e xenófobo.

A difusão do pensamento sistémico deveria incitar os quadros políticos a reforçar rapidamente as primeiras medidas adoptadas, para uma melhor descentralização com vista a uma melhor repartição das responsabilidades por níveis, para um reforço das capacidades de auto - organização das múltiplas componentes do sistema administrativo (liceus, hospitais …) e para uma substituição das regulações autónomos aos regulamentos inadequados e ineficazes.

Nota Pessoal:

Independentemente do (elevado) interesse em conhecer-se o trabalho deste investigador (e deste livro), admirou-me esta brevíssima incursão (reflexão) sobre o sistema político francês, cuja tradição, desde há muito, influencia o sistema politico português, inclusive os nossos “republicanos”.

A coincidência, entre as reflexões de um especialista em sistémica (e investigador) e as minhas, relativamente à “interpretação sistémica” de sistemas humanos (sistemas complexos, fortemente sobredeterminados), foi uma agradável surpresa pois em geral os especialistas em sistémica (maioritariamente, oriundos das ciências exactas) raramente “penetram” na (tentativa de) interpretação de áreas que caiem na esfera das ciências politicas.

sexta-feira, julho 22, 2005

O contributo do investimento público e do respectivo “emprego” para a crise

Portugal tem sido o País europeu, que nos últimos anos, maior percentagem do PIB gastou em investimento público e um dos que possui uma das mais baixas taxas de desemprego da União.

Contudo e apesar de ser um velho País da União está tão atrasado como quando para lá entrou – o mais atrasado da Europa, sem incluir os Países do alargamento, embora alguns deles já estejam, também, à nossa frente.

O artigo de Campos e Cunha, “Economia e Finanças”, no Público, vem precisamente apontar como o investimento público tem contribuído para isso. [Na mesma linha de reflexão veja-se “Porsche’s, investimentos e crise” e “Secagem da economia nacional”, em auscultações.blogspot.pt].

O que se passa na minha autarquia é, até certo ponto e numa pequena escala, a imagem do que se passa em todo o Portugal: tipo de investimento público, baixo desemprego (a aumentar, deste há cerca de seis anos) e crise.

Na minha autarquia, todos os anos os calceteiros da Câmara renovam as calçadas de dois ou três passeios (são sempre os mesmas); todos os anos se repete: três ou quatro calceteiros, debaixo do guarda-sol, aí estão a tirar pedra e a por pedra. Todos os anos …, fica tudo na mesma e, o curioso é que são “passeios” sem movimento de peões.

O único resultado líquido deste “investimento” é que deu “emprego”.

Esta é a imagem do tipo de gasto que o Estado faz do dinheiro dos “cidadãos contribuintes líquidos” - é o que tem sido o investimento público português; dá emprego e paga aos empreiteiros.

De facto na minha autarquia parece não haver grande desemprego; pelo menos é sempre extremamente difícil contratar alguém para o que quer que seja.

No mesmo sentido, na ex-URSS, fazia-se muitíssimo mais do que os políticos portugueses fazem por cá (mas estamos a caminho …). Aí só havia investimento público e havia tanto investimento público que, o dia a dia, das pessoas era sacrificado ao investimento público.

E, … bem, não havia desemprego; não se admirem, na ex URSS não havia um único desempregado, todos eram funcionários públicos (mesmo os membros, do que chamavam de “cooperativas”, eram funcionários públicos).

“0%” de desemprego - deveria ter sido um eldorado, aquela ex URSS!

É o que parece que se quer em Portugal: “Tudo” ao investimento público, porque criará emprego (!?).

A “esquerda” portuguesa (e a “direita”, não está muito longe) ainda não entendeu que é precisamente o investimento público (em geral, o consumo público) que esta a conduzir o País à ruína?

Ainda não entenderam que o “emprego” que o investimento público cria é (tem sido) circunstancial e é, quase sempre, mais um empurrão para a diminuição da produtividade do País (veja-se o resultado dos empregos fictícios de Guterres na função pública, nada melhorou!).

Mas é tão difícil ver isso!!!!

Basta olhar à volta …, ver os investimentos públicos realizados: quais são os produtivos? Quais são os que melhoraram a capacidade de produção e produtividade nacionais? Quais os que têm retorno? E, em quais destes, o retorno é compatível com o montante investido?

Não se trata de “passar a cumprir” o orçamentado para cada investimento, como alguns agora apregoam!

É tão grave “cumprir” o orçamento de um “mau investimento” como “não cumprir” o orçamento de um “mau investimento”.

Trata-se sim de que é dinheiro (riqueza nacional) “mal empregue”; e se é “mal empregue”, esse dinheiro, pura e simplesmente, deixou de poder ser “bem empregue” (o dinheiro volatilizou-se, porque não tem retorno).

Também não se trata de dizer que não há dinheiro para investimento público (por exemplo, para o TGV) e por isso se faz menos!

Trata-se de saber se esse investimento público (o TGV, por exemplo) é rentável (e a um prazo razoável) ou não; trata-se de saber, se por si só é rentável e, também, se é tão rentável que se deve realizar “antes” de outros projectos (por serem menos rentáveis).

E não se trata, também, de que “agora” (“agora”, é que será mesmo) é que vamos passar a realizar investimentos públicos “como deve ser”: com estudos de rentabilidade, orçamentos bem feitos, etc.

Poder-se-ia crer que uma mudança de atitude dos políticos poderia alterar essa “incompetência generalizada” de que goza o investimento público português (em geral, o consumo público) e que “mina” a economia e a sociedade portuguesa.

A História mostra-nos que não é possível acreditar que essa mudança de atitude possa surgir.

Não vai haver alteração alguma na atitude dos políticos portugueses – é que, de facto, não se trata, simplesmente, da vontade “pessoal” de cada um dos políticos!

[A paisagem urbana portuguesa é um bom exemplo e, nela, a Expo também!]

Na ex URSS não conseguiram fazer essa mudança, apesar de um corpo de intelectuais numeroso e dos mais bem habilitados do planeta (pois eles nunca transformaram analfabetos em iletrados e muito menos os “elegeram”) e apesar de uma crescente consciência de que as “coisas iam de mal a pior” (aliás, chegou-se a aceitar que a Hungria iniciasse uma experiência de liberalização económica como “teste” a um possível futuro ajustamento ao “sistema”).

O problema de fundo do que se passa em Portugal (e em muitos outros países) e que conduziu a esta “visibilidade” da crise, está na concepção societária que temos: o País é o Estado (e não os cidadãos, ou seja, a Nação) e a este (Estado) cabe fazer tudo.

O problema do País está no seu “Estado faz tudo”; está no excesso de intervencionismo estatal e excesso de burocracia associados ao forte esmagamento da capacidade de exercício da cidadania por parte dos portugueses (como alguém disse, “têm direito à indignação”; eu acrescentarei: mas não têm o direito de “fazer”, inclusive de “mudar”).

A “esquerda” ainda não entendeu que isso (o “Estado faz tudo”) não mudou após o 25 de Abril; a única mudança é que agora os cães (os cidadãos) podem “ladrar” mas a caravana (o Estado) passa.

A “esquerda” ainda não entendeu que o poder não transitou do Estado para a Nação (os cidadãos), após o 25 de Abril.

Sem dúvida que para isso ocorrer há muitas “causas”, algumas Constitucionais (por exemplo a incapacidade “efectiva” da Assembleia controlar do Executivo e um sistema judicial ineficaz).

São essas “causas”, profundas, que tem de ser estudadas, reflectidas, discutidas e “mexidas”.

Como tenho dito neste blogue, nada disso seria muito “importante” se as elites (ontem mais direita e, hoje, mais à esquerda, mas as duas anti - cidadania) não tivessem de lidar com o “raio” da globalização; é isso que coloca em causa o exclusivismo da “ordenha” da sociedade civil portuguesa a favor das nossas elites (de esquerda e de direita).

Hoje, com a globalização, quando as elites portuguesas estruturam a sociedade portuguesa para ser “ordenhada” para si (as elites portuguesas), estão, também, a colocar o País na “posição correcta” para passar a ser “ordenhado” pelas “elites externas”.

As elites portuguesas, à direita e à esquerda, ainda não entenderam que só a transferência do poder, no País, para os cidadãos as protegerá das elites externas e proporcionará condições para o desenvolvimento que almejamos.

Deixe-se a cada cidadão uma maior percentagem da riqueza criada por si próprio, transforme-se os políticos e funcionários públicos de topo em contribuintes líquidos (e não beneficiários líquidos, como o são hoje), diminua-se o intervencionismo do Estado e desburocratize-se a administração pública, assegure-se o controlo (“independente”) da Assembleia sobre o Executivo e coloque-se o Sistema Judicial ao serviço da Nação (e não dos juízes) e, finalmente, assegure-se um eficaz sistema de solidariedade social, em todos os domínios, para os que precisam efectivamente de ajuda.

Ou seja, deixem os cidadãos exercer a cidadania e preserve-se a solidariedade social a quem dela necessita.

Hoje, faz-se precisamente ao contrário; em nome da solidariedade social (que justifica elevados impostos e elevada despesa pública), uma parte importante da sociedade portuguesa, as elites, tornaram-se beneficiários líquidos da riqueza nacional.

Contudo são, precisamente, os mecanismos que lhes permitem ser beneficiários líquidos da riqueza nacional que está a fazer diminuir a riqueza nacional que anualmente é produzida.

Não nos devemos esquecer que o “ordenhador” deixa de o ser, se mata a vaca.

Hoje, contudo, além do “ordenhador interno” há o “ordenhador externo”, frequentemente mais forte que o “interno” e por isso com melhor acesso à “ordenha”; a única hipótese do “ordenhador interno” sobreviver (e não virar “vaca” também) é dar poder à “vaca”, ou seja, fazer com que deixe de ser “vaca”, destruindo o sistema que a criou.

No fundo a solução é muito simples: dê-se todo o apoio ao exercício da cidadania.

Isso já foi experimentado e com sucesso: nos países anglo-saxónicos.

sexta-feira, julho 15, 2005

Portugal - às portas de uma “guerra civil”

Greve dos funcionários públicos

Os sindicatos surgiram no fim do séc. XIX e início do séc. XX para defesa dos operários contra o patronato.

À data, não se imaginaria que a burguesia e a pequena burguesia (na acessão marxista) acabariam por tomar conta do conceito de “sindicalismo” a seu favor; hoje, são os “sindicatos de funcionários públicos” os que mais força têm (e operam) quer nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos.

Se, nos sindicatos operários, a luta é contra o patrão (em geral, uma entidade civil - não pública); nos sindicatos de funcionários públicos a luta é contra o Estado (o patrão dos funcionários).

Mas o Estado, num país democrático, é o Povo e quem paga as despesas do Estado e seus funcionários são os cidadãos “contribuintes líquidos” (nem todos os contribuintes são líquidos pois há muitos contribuintes que são beneficiários líquidos na redistribuição da riqueza nacional; na generalidade, os funcionários públicos de “topo” são beneficiários líquidos).

Ou seja, as greves dos funcionários públicos num país democrático é contra, pelo menos a sociedade civil que é “contribuinte líquido”, ou seja, as greves de funcionários públicos é contra a larga maioria da população portuguesa que não é funcionário público.

A questão que se coloca é, se apesar desse “carácter”, essas greves podem ou não ser justas (e, até úteis)!

Não duvido que possam ser justas e úteis, mas quando as suas exigências são “razoáveis”.

Por exemplo não é “justa” (nem inteligente) uma greve operária que conduza a respectiva empresa à falência. Os operários aprenderam isso, há muito; em Portugal, o caso das recentes negociações na Auto Europa é um bom exemplo disso.

Mas se os operários aprenderam isso à sua custa e, por vezes, de forma dolorosa, o mesmo parece não se passar com os sindicatos dos funcionários públicos; uma País pode cair na “incapacidade generalizada” e na miséria mais constrangedora, mas não entra em falência.

Os sindicatos dos funcionários públicos (que, em Portugal, até integram órgãos de soberania!) parece que acham que enquanto houver “leite” nas “tetas” dos “contribuintes líquidos” podem pedir mais e mais até um nunca acabar.

Inclusive, inventaram os “direitos adquiridos” para que os processos de luta e exigência nunca pudessem ter como efeito o de “voltar para atrás” sobre o já (duramente!) “conquistado” (contra quem?)!

As regalias e os privilégios dos funcionários públicos portugueses é muitíssimo maior que os da sociedade civil que “os alimenta”; é-o mesmo de forma desapoderada, porque o são num País com 20% de população na pobreza e, muitos mais, não muito longe dessa pobreza.

Justificar esses privilégios pela afirmação de que a média de formação no funcionalismo público é maior que na sociedade civil é um sofisma porque o acréscimo de habilitações nos sectores públicos não implicou aumento de “competência e eficácia” nos respectivos serviços.

De facto, muitos dos licenciados do funcionalismo público não arranjaram empregos na sociedade civil porque “não sabem”; é que o sistema de ensino público passou a transformar analfabetos em iletrados e, isso, perante a passividade dos sindicatos dos professores públicos - nada passivos quando se trata de lutar por mais, e sempre mais, regalias.

Tão, ou pior, que esse “excesso” de privilégios do funcionalismo público, é que os serviços públicos operam, persistentemente, com uma ineficiência quase – total e bloqueiam o aumento dos níveis de eficiência nacionais – os serviços públicos são, em geral, manifestamente incompetentes e “bloqueadores”; frequentemente, mesmo o simples cumprimento da lei, em tempo, ainda tem de ser pago “debaixo da mesa” pelos cidadãos!

É caso único na Europa, com excepção de alguns países do leste europeu, aonde as “Nomenclaturas” têm uma longa tradição!

Fazer greve para aumentar ainda mais as regalias e privilégios ou para evitar que alguns deles “apenas sejam congeladas durante algum tempo”, porque estamos em tempo de “crise” (provocada pelo próprio Estado e seus funcionários); fazer greve por isso, quando os cidadãos portugueses estão cada vez mais conscientes de que estão a “sustentar” uma aristocracia que não o merece face ao tipo e qualidade de trabalho que apresentam, está a colocar o País às portas de uma “guerra civil”.

Pelo que se pode ouvir nos debates públicos e ler nos jornais, a indignação da sociedade civil é crescente e atinge as raias da revolta; a linguagem utilizada é cada vez mais agressiva e denota indignação e irritação, crescentes.

Os “políticos”, até agora, têm sido cooptados pelos privilégios que “auto - definem” para si mesmos e pelos privilégios do funcionalismo público, nos quais se integram quando deixam a politica.

Ou seja, com facilidade, os “políticos” têm aderido ao “clube” dos “funcionários públicos”, mas nada garante que não apareça um “louco” para colocar “ordem na casa”.

Para “desmontar” os 700 000 funcionários públicos que estão em cima do “burro - sociedade civil” haverá, com certeza, muitíssimos entusiastas!

Ainda há semanas, sobre a situação de descontentamento nacional existente, ouvi Mário Soares afirmar algo semelhante a: “apesar dos portugueses terem brandos costumes …”

Os sindicatos dos funcionários públicos ainda não entenderam que estão a cavar a sua sepultura ao cavarem a sepultura da sociedade civil, e em particular, dos “contribuintes líquidos” que os sustentam.

terça-feira, julho 12, 2005

“A singularidade da escola pública” de Vital Moreira, em Público de 12-7-2005


Penso poder sintetizar este artigo de Vital Moreira em duas grandes linhas:
- o poder universalizador (e uniformizador) do Estado no alargamento da educação a “todos” e

- o não monopólio do Estado na educação, em Portugal.

Deste modo, Vital Moreira, conclui que a “ofensiva” contra o papel do Estado na educação representa “interesses” privados de tipo corporativos a “fazerem-se” a mais um “negócio”, inclusive a ser financiado por dinheiros públicos.

Não direi que as conclusões de Vital Moreira quando aos “interesses” não estejam certas, embora não nos possamos esquecer dos “interesses dos professores públicos”.

Não sejamos simplórios, o “monopólio” do Estado exerce-se de muitas maneiras: o “excesso” de regulamentação (que, frequentemente, nem as escolas públicas cumprem), a falta de liberdade pedagógica e a concorrência (desleal) promovida pelo próprio Estado.

Mas a questão de fundo é a seguinte: quais os resultados do ensino público em Portugal?

A resposta é simples: após, muitíssimos milhares de milhões de euros (dos cidadãos portugueses) e muitos anos de trabalho (?), substituímos analfabetos por iletrados!

Independentemente dos “interesses” existentes (da sociedade civil ou dos funcionários “professores públicos”) o que nos deveria preocupar é o que falhou no ensino em Portugal.

Reafirmar que o Estado é o melhor garante da universalização do ensino é “tradicional”, “bonito” e até “vende”. Eu, até já acreditei nisso!

Mas, não olharmos a realidade é persistir num grave erro. O ensino público português falhou - como, com certeza, terão falhado muitas outras coisas, e seria interessante ver o que há de “comum” em todos esses “falhanços”.

Dir-se-á que é preciso melhor o sistema (o do ensino)! Mas será que não é, precisamente, o sistema que está errado?

Aqui, a comparação com o que ocorre noutros países pode ajudar muito.

Embora a dimensão do “falhanço” português não tenha paralelo, pelo menos após tantos milhares de milhões de euros gastos (um dos per capita mais altos da Europa), grande parte dos Países desenvolvidos reequacionam, hoje, os seus sistemas de ensino.

Na generalidade, a causa primeira que é apontada tem sido o “ensino público” e a sua ineficácia crescente com o “poder sindical” dos professores.

Pode ser uma simples coincidência … mas nunca vi eficácia, em nenhuma actividade, sem estar associado à correspondente responsabilização, “coisa” a que os professores públicos não estão sujeitos.

Como responsabilizar, então, os professores públicos?

Uma das formas é o cheque – educação; não para financiar o sector educativo privado, como deduz Vital Moreira.

Que eu saiba, nos EUA, o cheque – educação existe para as “escolas públicas aderentes” e, as privadas também.

O cheque – educação pretende devolver aos pais (cidadãos) o seu papel interventor na educação dos seus filhos; papel esse, que lhes foi retirado pelo Estado (bem intencionado, sem dúvida) ao “obrigar” os seus filhos a frequentarem a escola do local de residência, independentemente da sua competência ou da sua total incompetência (ter-se-á admitido que por ser “escola pública” seria uma escola, sempre, competente - grave erro!).

Dizer que a intervenção dos pais junto da escola do bairro pode melhorar as “coisas” é o mesmo que dizer que a intervenção dos cidadãos junto das autarquias pode acabar com o “terror” que constitui a paisagem urbana portuguesa que se constrói todos os dias de norte a sul do Pais!

O problema está aí … para nós (portugueses), pode ser um problema novo (até há quem diga que é por sermos democráticos há tão pouco tempo!).

Para muitos dos Países desenvolvidos, que com ele se debatem, é um problema velho; já fizeram muitíssimos ajustamentos ao sistema; melhorou, mas não resolveu.

Pelo que conheço o sistema educativo anglo-saxónico é o que se tem revelado mais eficaz e com maior grau de capacidade de adaptação ao desenvolvimento e exigências da sociedade moderna, em constante mutação. É um sistema aberto e não um sistema fechado como o português.

Ninguém quer que a educação não continue universal.

Mas, também, todos devemos querer que a educação forme efectivamente os nossos filhos, em vez dos “distrair” durante 20 anos.

Se o actual sistema produz iletrados, a que título o devemos manter?

Só se for como “coutada” dos milhares de funcionários públicos (os professores); em absoluto, não responsabilizáveis pelos resultados que apresentam?

O sistema actual está mal.

O Estado, pelo simples facto se ser “Estado”, não dá garantias (todos conhecemos muitos Estados que são não só incompetentes como até “pessoas de mal”).

Eu não tenho dúvidas que é essencial devolver aos pais o poder de decidir sobre a educação dos seus filhos.

Descontar, em 100%, as despesas de educação dos impostos é um bom caminho e dá margem a alguns pais para “fugirem” ao ensino público se o acharem incompetente.

Mas mais universal e eficaz seria libertar os pais de serem obrigados a colocar os seus filhos nas escolas públicas da zona de residência e seria passar a pagar o “ensino público” através dos respectivos alunos (como o ensino privado), por exemplo, através de cheques - educação .

É provável que algumas escolas públicas falissem por falta de alunos que as quisessem frequentar e que alguns professores e directores de escola fossem para a “rua”, mas os nossos filhos e o País ganhariam com isso.

O ensino é demasiado importante para ficar refém das mãos do Estado, em especial depois dos resultados que apresenta ao fim de tantos anos e de tanta “depredação” do dinheiro dos cidadãos!

É essencial chamar a sociedade civil ao ensino.

quinta-feira, julho 07, 2005

Índice de Distância Hierárquica - Síntese

Características Gerais dos Países de acordo com o respectivo IDH

IDH baixo … O uso do poder deve ser legitimado e submeter-se a critérios de bom e mau

IDH elevado … o poder prevalece sobre o direito e quem tem poder tem razão


IDH baixo … Competência, riqueza, poder e estatuto não estão necessariamente juntos

IDH elevado … Competência, riqueza, poder e estatuto devem estar juntos


IDH baixo … A classe média é grande e todos têm direitos iguais

IDH elevado …A classe média é pequena e os poderosos têm privilégios


IDH baixo … As pessoas com poder tratam de parecer menos poderosas

IDH elevado … As pessoas com poder tratam de impressionar


IDH baixo Muda-se o sistema político pela evolução

IDH elevado … Muda-se o sistema politico pela revolução


IDH baixo … É raro o uso da violência politica

IDH elevado …Com frequência, os conflitos políticos caiem na violência


IDH baixo … Governos pluralistas baseados no voto da maioria

IDH elevado … Governos autárquicos e oligárquicos baseados na designação


IDH baixo … O espectro político mostra um centro forte e uma direita e esquerda fracas

IDH elevado … Quando se pode manifestar, o centro é fraco


IDH baixo … Pequenas diferenças de rendimentos, reduzidas ainda mais pelos impostos

IDH elevado … Grandes diferenças de rendimentos, agudizadas ainda mais pelos impostos


IDH baixo … As religiões e sistemas filosóficos acentuam a igualdade

IDH elevado …As religiões e sistemas filosóficos acentuam a hierarquia e a estratificação


IDH baixo … As ideologias políticas acentuam a repartição do poder

IDH elevado …As ideologias politicas acentuam a luta pelo poder


IDH baixo … As teorias de gestão centram-se no papel dos empregados

IDH elevado …As teorias de gestão acentuam o papel dos chefes

[De: “Culturas e Organização” de Geert Hofstede

– Professor de Antropologia Organizacional e Gestão Internacional na Universidade de Limburg na Holanda; fundador e Director do Instituto de Investigação em Cooperação Inter cultural; mestrado em Engenharia mecânica e doutorado em Psicologia Social.

O livro trata do papel da Cultura (em sentido lato) na organização das sociedades, incluindo o comportamento social dos indivíduos (lembram-se de José Gil?), a organização do Estado e as relações entre culturas diferentes.

Baseia-se em vários estudos de investigação efectuados por todo o mundo por vários investigadores, alguns dirigidos pelo próprio autor. O tratamento matemático (Estatística) é a ferramenta fundamental.]