domingo, abril 09, 2006

O modelo francês está em falência

Para Jacques Marseille, director do Instituto de História Económica e Social, de Paris, “a França não é uma democracia”.

O modelo francês é adular um Estado todo-poderoso. É tornar o funcionalismo público na profissão mais apetecível – em França, 55 % dos parlamentares saem da alta administração pública: é o modelo do emprego vitalício e, em simultâneo, cria um clima de suspeita em relação ao mundo empresarial.

É importante que intelectuais conceituados vejam, cada vez mais, a público mostrar aonde se implantaram “democracias de baptismo” e não de facto.

A democracia surgiu como uma forma de organização social contra o Estado todo-poderoso e não ao contrário; o caso de França é similar ao Português, como tenho vindo, ao longo, destas páginas a demonstrar.

Portugal precisa urgentemente de intelectuais e de um Partido que, defendendo a cidadania, bloqueiem este Estado todo-poderoso que está a conduzir este País à ruína.


Tanto em Portugal como em França a alteração do modelo político-social existente, passa pela alteração da Constituição.


Não é possivel haver Democracia sem uma Constituição de defenda a Cidadania e o Estado enquanto emanação dessa Cidadania (e não o contrário, como ocorre hoje).
Não é possivel haver Democracia enquanto predurar a promiscuidade existente entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo e enquanto este não se tiver de limitar a governar dentro de um quadro legal que não pode ser alterado a seu bem prazer.

quarta-feira, abril 05, 2006

A Avaliação da Constituição


Aos 30 anos da Constituição Portuguesa não são poucos os jornais que vêm apresentando as mais diversas observações, reflexões e análises sobre a sua “actualidade”.

Em geral, todas as observações e avaliações à Constituição são relativas ao seu conteúdo em si. E neste quadro, não são poucos os que continuam a dizer que a Constituição Portuguesa é uma das melhores do mundo (nisso, somos muito parecidos com os brasileiros!).

Ora uma Constituição, como qualquer lei ou regulamento, pode ser sempre encarado sobre diversos pontos de vista: a sua história, o estilo da sua prosa e até o seu conteúdo.

Mas isso não é avaliar uma Constituição (lei ou regulamento); que é, o que se esperaria após 30 anos de aplicação de uma Constituição.

Uma Constituição (assim como uma lei ou regulamento) é elaborada com vista a um objectivo.

Avaliar uma Constituição é pois avaliar em que medida ela tem proporcionado alcançar os objectivos que a levaram a ser formulada, aprovada e aplicada – isso, sinceramente, não vi ser feito, até agora, nos jornais portugueses.

Vital Moreira alarga-se num longo artigo no Púbico (de 4 de Abril) no qual salienta a sua participação na Constituição e garante que ela proporcionou a estabilidade em que hoje se vive e que continua adequada ao País.

Sobre os motivos que o levam a afirmar isso, nada diz! Sobre as consequências positivas e negativas (se as houvesse) da Constituição sobre o grau de eficiência na forma como funciona o actual sistema político português nada diz!

A Crise em que o País vive não tem nada a ver com a nossa Constituição?

Eu gostaria de ver Vital Moreira “provar” o que diz nesse seu artigo, como aliás a muitos dos que escreveram sobre estes 30 anos da Constituição – “uma das melhores do mundo”.

Gostaria, por exemplo, que nos explicasse como durante estes 30 anos a Constituição assegurou na praxis do sistema político português a separação entre o poder legislativo e o poder executivo – é que os cidadãos o que viram foi a promiscuidade completa entre um poder e outro!

Ninguém controla ninguém; o Governo faz o que lhe apetece entre eleições e nunca consegue ser responsabilizado por nada – de facto, o País vive numa ditadura entre eleições.

Isso não cria estabilidade alguma; pelo contrário, a cada novo Governo nova política, e novos boys.

O governo não governa no quadro estrito das Leis existentes; a promiscuidade entre legislativo e executivo permite a este alterar, com a maior das facilidades, todas as leis de que o governo não goste.

E quanto à independência do poder judicial face ao poder executivo; o que proporciona esta Constituição?

O sistema judicial está um caos; até já se fala num sistema judicial específico para as elites politicas – Salazar não foi tão longe.

E quanto à separação entre o poder legislativo e o poder judicial – nem o Procurador Geral da República sabe qual a sua relação com o poder judicial e o poder legislativo.

Gostaria de saber qual o contributo da Constituição para o alargamento a todos os portugueses da capacidade de exercício da cidadania – a capacidade de poderem auto-governar as suas vidas, a capacidade de se assumirem como adultos responsáveis por si próprios e pelas comunidades a onde se integram, a possibilidade de controlarem o Estado e exigirem responsabilidades pelos actos políticos que tomam em seu nome, etc.

O que a praxis nos mostra é a existência de uma cidadania bloqueada e amarfanhada, na qual os cidadãos portugueses são cidadãos de 2º classe face aos estrangeiros e às suas elites políticas, são continuamente empobrecidos e esmagados por impostos exorbitantes (e de cuja aplicação o Estado não presta contas), etc.

Esta Constituição coloca o Estado no centro de Portugal em vez de colocar aí a Nação, ou seja, os cidadãos portugueses.

O filósofo José Gil caracterizou muitíssimo bem a cidadania existente em Portugal; qual o contributo desta Constituição para tal?

Afirmar que a Constituição Portuguesa é das mais avançadas do mundo é não a comparar com as constituições da ex-URSS e de Cuba, por exemplo – estas Constituições, em termos de intenções, são muitíssimo mais avançadas que a portuguesa. E … vejam em que resultou (o inferno está cheio de bem intencionados!).

sábado, abril 01, 2006

Quanto mais Centralizadores mais frágeis

Assim como não há liberdade sem mercado (enquanto espaço social) também o fortalecimento do Estado orientado para a centralização em si de grande parte da iniciativa nacional o torna extremamente frágil e susceptível a interesses particulares (ou seja, susceptível à sua instrumentalização por “estranhos”).

O forte intervencionismo do Estado na sociedade (os Estados comunistas representaram formas extremas de centralização e de intervencionismo estatal) inibe o funcionamento do mercado e bloqueia a capacidade de exercício da cidadania.

Sem mercado a repartição da especialização (divisão social do trabalho) e a redistribuiçãocorrespondente (de bens e serviços) deixam de ser iniciativa dos cidadãos (reflectindo o confronto entre os seus interesses próprios e os interesses sociais), para passarem a ser determinados previa e administrativamente pelo Estado; ou seja, a função do mercado passa a restringir-se apenas a um "espaço de trocas" e este passa a ser uma questão de administração ou de logística – quanto maior for o intervencionismos do Estado, quanto maior forem as áreas de actividades em que o Estado distribua “estímulos” (positivos ou negativos) segundo o que pretende preferencialmente dos cidadãos assim é tanto maior o carácter administrativo a que subordinará a decisão dos cidadãos e, evidentemente, a forma como se decide nesse País.


Por exemplo a viabilidade de um projecto passa a ser defenida administrativamente e não por critérios económicos e sociais.


Enquanto que o mercado transfere para os cidadãos e a sociedade a iniciativa e a responsabilidade, sociais; o Estado centralizador retira-lhes essa iniciativa e essa responsabilidade.

Enquanto que o mercado olha o exercício da cidadania como um direito de pessoas adultas, capazes de se auto-governareme e responsáveis e protege e promove o seu desenvolvimento ; o Estado centralizador encara essas mesmas pessoas como “diminuídas” e incapazes de se auto-governarem – evidentemente, este tipo de Estado acaba por transformar essa "incapacidade" dos seus cidadãos numa incapacidade efectiva.

Enquanto que o mercado transforma todos os cidadãos em a elite e valoriza o seu papel na respectiva sociedade; o Estado centralizador acha-se a si mesmo e a quem o dirige a elite, os que são mais capazes que os “outros” e, por isso, os detentores de direitos especiais (direitos adquiridos suportados pelos direitos não-adquiridos dos “outros”).

Enquanto que o mercado exige Lei, exige igualdade perante a lei e a sua observância estrita; para o Estado centralizador a lei é uma ferramenta de comando dos cidadãos, muda-se de ânimo leve e quando convém e não há pejo na criação de situações de excepção (desde que com o "carimbo" de lei).


Enquanto que o mercado respeita as diferenças, embora desenvolva uma forte sentido de co- solidariedade (porque é aí forte o sentimento da co-responsabilidade social); o Estado centralizador é uniformizador, só permitindo algum direito à diferença às suas elites.


Etc.

Num mundo mundializado, no qual as fronteiras estão abertas, um País governado por um Estado Centralizador, como o Português, é muitíssimo mais susceptível a ser “tomado” por forças externas ao País do que num País em que o poder está repartidos pelos cidadãos e o Estado é por estes controlado.

A História mostra bem como os Impérios e as potências coloniais se estruturaram sobre o "poder central" assegurado aos reis ou caciques locais sobre os seus súbditos afim de poderem dominar povos inteiros com o mínimo de esforço.

Por exemplo, a República Romana nunca pretendeu exportar o seu conceito de república para os povos conquistados; sempre lhe deu mais garantias preservar o poder local nas mãos de Estados locais centralizadores e fortes do que em estados sustentados nalguma forma de exercício local da cidadania .

Portugal, sendo governado por um Estado Centralizador e estando a sua sociedade estruturada na não-cidadania, tornou-se um Estado extremamente frágil e susceptível a ser “tomado” por interesses estranhos – cada vez mais se ouve falar no financiamento de lideres políticos e de partidos políticos por interesses estrangeiros.

Hoje, a abertura de fronteiras e o imenso poder (financeiro e organizativo) das máfias associado ao aumento crescente da sua inteligência, fazem com que essa possibilidade já não seja ficção.

Não estou de acordo com a Procuradora Morgado quando localiza a resolução desta questão exclusivamente ao nível do aumento da eficiência das polícias e da necessidade destas não serem instrumentalizadas pelo Estado; só a descentralização do poder para os cidadãos é garantia de que o Estado ou as polícias não se deixarão instrumentalizar – aliás, as "vendas organizadas" de armamento militar, por vários agentes da policia, mostra bem que isso pode sempre ocorrer.

Torna-se compensador colocar alguém (ou um grupo de pessoas) no “poder” se este puder ter suficiente autonomia de capacidade de decisão; melhor ainda se não puder ser controlado, responsabilizado ou substituído e, melhor ainda, se a governação do País estiver subordinada a um Estado Centralizador, aonde o exercício da cidadania está bloqueado e a sociedade civil inoperante.


A capacidade de exercício da cidadania, existente num País, é muito mais questão de Segurança do Estado e de Independência Nacional do que se possa pensar!


Quando mais o Estado Português interfere na vida social e económica nacional, quanto mais ultra-regulamenta e transforma a vida dos cidadãos portugueses segundo balizas administrativas, quanto mais esmaga o papel do mercado enquanto espaço social e de cidadania mais o Estado se torna Centralizador e apetecivel a interesses "estranhos" - este Estado torna-se fragil e coloca em causa a soberania nacional.