Consequências da “cidadania à portuguesa” (V)
A inovação torna-se impossível
Não é possível esperar de uma cidadania bloqueada que possa haver criatividade e, muito menos, inovação.
A inovação e a criatividade sustentam-se na capacidade de se tomar iniciativas, de se experimentar, de arriscar, etc; a inovação e a criatividade nascem de milhões de iniciativas das quais a larga maioria não resultarão a não ser em custos para os seus autores.
A História mostra claramente que só sociedades abertas que permitiram elevada iniciativa individual e colectiva se revelaram criativas e inovadoras. As sociedades ditatoriais ou centralizadas em Estados fortes, por muito esclarecidas que fossem as suas elites, raramente mostraram bons resultados quanto a criatividade ou inovação.
Muita da inovação e da criatividade não é procurada de propósito; ela surge da praxis de milhões de pessoas, surge de muitíssimas experimentações, de muitíssimos falhanços e até falências – ela surge de um continuum de atitudes e práticas sustentadas na livre iniciativa das pessoas.
A opinião de grande parte dos inovadores e criadores é de que a inovação e a criação são constituídas por 10% de “descoberta” e 90% de trabalho; inclusive, a “descoberta” só é tomada como tal quando os 90% de trabalho a elevaram (à “descoberta) ao nível do seu reconhecimento como inovação ou como criação.
Não há, ou só excepcionalmente pode haver, inovação e criatividade quando as pessoas são pobres e bloqueada pelo sistema político-administrativo em que vivem.
Como será então possível esperar que tal ocorra num “país de miseráveis” e, aonde, cada pequena iniciativa só pode esperar “bloqueio”, de algum tipo, por parte do Estado?
Quem, pobre ou perto da pobreza, pode-se dar ao luxo de investir o pouco que tem para experimentar e arriscar em algo que é só germinação na sua cabeça e, se for avante, nada sabe sobre a forma como o mercado pode vir a receber as suas ideias?
E, não se trata, como disse o Presidente Jorge Sampaio, de uma questão de capital de risco e dos bancos não apoiarem.
Quem, pobre ou perto da pobreza, se pode dar ao luxo de diminuir o seu tempo dedicado ao “ganha-pão” para deixar o seu pensamento “voar” num brainstorming criativo?
A única hipótese de esperarmos “inovação e criatividade” é permitir aos portugueses uma ampla capacidade de exercício da cidadania; ora, o que o Estado Português promove (e, historicamente, sempre o fez), é precisamente o contrário: bloqueia a cidadania.
Ou seja, o primeiro passo para favorecer a criatividade e a inovação seria ampliar a capacidade de exercício da cidadania, seria diminuir drasticamente os impostos e, simultaneamente, reestruturar a administração pública de molde a colocá-la ao serviço dos cidadãos e das suas iniciativas.
Ora o que se faz é precisamente ao contrário. A Crise em que o País vive e a necessidade de preservar os direitos adquiridos das elites políticas e administrativas e os subsídios às Corporações levou este Governo a ter-se lançado de forma desabrida no aumento de impostos, taxas, multas, etc.
O país é já pobre mas vai ficar muitíssimo mais pobre; não se espere inovação alguma.
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