segunda-feira, março 27, 2006

O Mercado enquanto espaço de cidadania

Em geral a esquerda e a direita corporativa (fascista) não gostam do mercado; Portugal não é excepção – aqui o mercado é diabolizado.

Ora, o mercado mais que um espaço de trocas é um espaço de interacção social.

O mercado só existe porque a especialização proporciona ao homem vantagens significativas.

É a especialização que, repartindo entre os membros de uma comunidade várias responsabilidades, as obriga a irem ao mercado trocarem aquilo com que co-participam para essa comunidade.

Contudo, da especialização e da consequente existência de mercado emergem novas criações culturais; não só o mercado induz, por sua vez, novas especializações e aumentos na produtividade na respectiva comunidade como permite e induz a inovação e um maior ajustamento entre as capacidades inatas ou sociais de cada indivíduo ou colectividade ao que estes fazem.

Ou seja, o mercado aumenta a possibilidade de livre arbítrio individual e colectivo (proporciona liberdade) mas obriga em simultâneo ao ajustamento dessa liberdade às necessidades da respectiva comunidade através da valoração (no mercado) da forma como essa liberdade foi utilizada (valoração dos bens e serviços que foram realizados segundo o seu livre arbítrio).

O mercado incentiva a meritocracia; mas mais, a definição e a avaliação da meritocracia, é realizada pela respectiva sociedade e não por qualquer um administrador ou ditador.

O mercado permite liberdade mas obriga os seus participantes a colocar os “pés no chão”.

O que não acontece sempre que alguém pode viver de subsídios ou de escravos.

Por isso também a igualdade de direitos e a Lei são tão importantes e assumida por todos como soberana.

Mais que um espaço de trocas, o mercado é um espaço social; é um espaço de exercício da liberdade e da Lei e é um espaço de inovação sem deixar de ser simultaneamente um espaço de co-responsabilidade e de solidariedade – em fim, o mercado é um espaço de exercício da cidadania e de humanização, na medida em que o Homem, como ser adulto, auto-determinado e responsável, deve poder-se assumir como tal e não como “escravo” (sem livre arbítrio).

Não foi à toa que nos países comunistas o mercado foi a sua primeira vítima; as relações de mercado (que subentendem a prévia existência de liberdade e a soberania da Lei) foram substituídas por relações de logística; a moeda deixou de ser instrumento de valoração da participação de cada um no espaço social (que é o País) e passou a ser uma unidade de medida do Estado.

Se a existência de mercado não é por si só condição de liberdade e de capacidade de exercício de cidadania; a não existência de mercado é condição para a não existência de liberdade e de capacidade de exercício da cidadania – o mercado cria um espaço social que proporciona liberdade sem descurar a co-responsabilidade (se o Estado não o distorcer protegendo as suas elites contra os cidadãos-escravos) e sem descurar a solidariedade.

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