quarta-feira, outubro 26, 2005

Crise, Exportação e 20% de Pobres (IV)

Não é pois por acaso que o debate do Orçamento e o parecer de muitos economistas sobre soluções adoptadas não integrem a pobreza no País; o presente “Estado Social” já está em grave crise, como encontrar soluções que integrem a questão da pobreza, mesmo se esta representa (pelo menos) 2 milhões de portugueses?

Não é por acaso que até há economistas, e sérios (e honestos), que afirmam aceitar que o Orçamento integrasse um aumento de “subsídios”, porque isso representaria de algum modo uma correcção à impossibilidade do Estado não poder intervir no valor da moeda!

Mas foi precisamente por isso, porque o Estado português interveio abusivamente sobre o valor da moeda para apoiar o desenvolvimento e “proteger” a economia portuguesa, que Portugal desenvolveu uma “economia subsidiada” (economia não-competitiva, incompetente), ou seja uma “economia distorcida” por força do tipo de intervencionismo do Estado.

Nos anos 80, quando os EUA estavam “desesperados” com a agressividade da economia Japonesa sobre a sua economia, também aí os “gritos” para fechar fronteiras foram enormes; a resposta foi: não fechar – foi acreditar que os cidadãos americanos (não o Estado) saberiam reagir.

Quando perguntei a dois Directores Gerais de duas grandes empresas americanas sobre como encaravam esta situação, a resposta foi a mesma: estamos “tontos …”; os japoneses são muito competentes e trabalham muitíssimo, não têm férias; vamos ter de trabalhar mais do que estamos a fazer, reduzir ainda mais as nossas férias e temos de trabalhar melhor do que o estamos a fazer – era a primeira vez que estava nos EUA, fiquei impressionada pela “força” e “energia” que senti naqueles dois Directores Gerais.

O “respeito” pelos Japoneses sentia-se em toda a sociedade americana; as livrarias estavam cheias de livros para aprender Japonês, as empresas aéreas colocavam nos aviões dísticos em Japonês, etc. – o sentimento era: eles são “bons”, temos de aprender com eles e rapidamente.

É evidente que “fechar fronteiras” não teria sido a solução; deixá-las abertas induziu a “reacção” adequada – mas a “dor” foi imensa porque muitíssimas empresas americanas foram para a falência e milhões de americanos foram para o desemprego.

Portugal tem um tecido económico que se desenvolveu de forma distorcida, porque foi um desenvolvimento condicionado à “força interventora” do Estado – foi assim antes do 25 de Abril e piorou depois do 25 de Abril.

Há que corrigir esta situação urgentemente se queremos ter um lugar na Europa e no Mundo que não seja diferente do de sermos “empregados”; a dívida externa atingiu dimensões elevadíssimas, os nossos “novos patrões” estão à espreita, e agora, fronteiras já não se fecham!

A solução há muito que está apontada: se os países anglo-saxónicos se adaptaram porque acreditaram nos efeitos do livre exercício da cidadania por parte dos seus cidadãos e “limitando” os seus Estados (o poder à Nação e não ao Estado); é isso que temos de fazer também.

Só actuando desse modo podemos induzir a correcção à actual estrutura da economia portuguesa e integrar na economia os nossos “pobres”; a “exportação” passa a não ser objectivo em si, passa a ser consequência de uma economia sã e dinâmica – dinâmica porque competitiva, em si, e não porque sustentada com o empobrecimento dos cidadãos portugueses.

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